Das telas faz espelho da alma. Das cores autoestrada para os seus sentimentos. Cristiano Mangovo, natural de Cabinda, Angola, é o terceiro de uma família de sete filhos, onde o dom para a pintura se infiltrou fundo. Comprometido com o mundo que o rodeia, deixa-se frequentemente tocar pelas questões específicas que moldam o contexto africano onde nasceu e cresceu. Aconteceu recentemente com Os Protagonistas, mostra que orgulhosamente levou à Galeria de Exposições Temporárias do Pavilhão de Angolana Expo 2020 Dubai. O sucesso é feito de pequenos passos. E o mundo das artes tem visto Cristiano Mangovo ir longe.
Cristiano Mangovo
«A arte corre-me nas veias»
Como foi a sua infância e como começou a pintar?
Nasci em Angola, no seio de uma família com dotes artísticos. Ainda em criança, maravilhado com o talento do meu irmão mais velho, pedia-lhe que me fizesse desenhos, mas sem grande sucesso, o que me incitou a desenvolver o meu traço pessoal. Desenhava em todas as superfícies, desde paredes, chão ou qualquer pedaço de papel que encontrasse: é algo de que me apercebi e ainda hoje não controlo.Uns anos mais tarde, a minha tia deu-me dinheiro e gastei-o imediatamente na minha primeira caixa de guaches, altura em que comecei a pintar. Fazia principalmente reproduções de capas de filmes e de banda desenhada, como as do Lucky Luke, das Tartarugas Ninja, do Tintim, entre outros. Esta minha paixão foi-se estendendo no tempo e, um dia, a minha mãe, ao ver a minha honesta dedicação às artes, decidiu inscrever-me numa Escola de Artes Plásticas, abrindo-me um incomensurável universo criativo.
Quando percebeu que queria fazer carreira como artista?
Nasce-se artista. A paixão pelas artes sempre esteve latente na minha alma. No entanto, foi enquanto estudante universitário na Faculdade de Belas Artes de Kinshasa que tomei profunda consciência de que queria viver da arte e para a arte. Assim, paralelamente aos meus estudos, visitava ateliers de mestres e de artistas, tanto ligados ao mundo das artes visuais, como das artes populares. Aprendi e vivi intensamente neste contexto, procurando compreender a sua dimensão. Fiz também vários workshops de cenografia urbana e performance artística. O meu foco foi sempre conhecer e explorar as minhas capacidades criativas para assim ir construindo o meu próprio universo, um mundo onde pudesse ser livre.
«A paixão pelas artes sempre esteve latente na minha alma»
Nasci em Angola, no seio de uma família com dotes artísticos. Ainda em criança, maravilhado com o talento do meu irmão mais velho, pedia-lhe que me fizesse desenhos, mas sem grande sucesso, o que me incitou a desenvolver o meu traço pessoal. Desenhava em todas as superfícies, desde paredes, chão ou qualquer pedaço de papel que encontrasse: é algo de que me apercebi e ainda hoje não controlo.Uns anos mais tarde, a minha tia deu-me dinheiro e gastei-o imediatamente na minha primeira caixa de guaches, altura em que comecei a pintar. Fazia principalmente reproduções de capas de filmes e de banda desenhada, como as do Lucky Luke, das Tartarugas Ninja, do Tintim, entre outros. Esta minha paixão foi-se estendendo no tempo e, um dia, a minha mãe, ao ver a minha honesta dedicação às artes, decidiu inscrever-me numa Escola de Artes Plásticas, abrindo-me um incomensurável universo criativo.
Quando percebeu que queria fazer carreira como artista?
Nasce-se artista. A paixão pelas artes sempre esteve latente na minha alma. No entanto, foi enquanto estudante universitário na Faculdade de Belas Artes de Kinshasa que tomei profunda consciência de que queria viver da arte e para a arte. Assim, paralelamente aos meus estudos, visitava ateliers de mestres e de artistas, tanto ligados ao mundo das artes visuais, como das artes populares. Aprendi e vivi intensamente neste contexto, procurando compreender a sua dimensão. Fiz também vários workshops de cenografia urbana e performance artística. O meu foco foi sempre conhecer e explorar as minhas capacidades criativas para assim ir construindo o meu próprio universo, um mundo onde pudesse ser livre.
«A paixão pelas artes sempre esteve latente na minha alma»
Em que é que se inspira para pintaras suas obras?
O universo que transponho para as minhas obras resulta tanto do meu imaginário como do mundo que me rodeia. Tenho como que uma memória fotográfica. Retenho imagens e vozes que povoam o meu quotidiano e, assim, a minha inspiração provém de uma caminhada por entre pessoa sou florestas, mas também de notícias ou de livros que folheio. O mundo, com os seus odores, sabores e sentires, é, e será sempre, uma fonte inesgotável de inspiração para mim.
O que pretende transmitir com as suas obras?
Na minha obra, abordo várias temáticas socio culturais. No entanto, independentemente da temática, procuro, na maioria das vezes, encarar cada obra como uma oportunidade de dar esperança e energia positiva a quem interage com o meu trabalho.
De Angola para Portugal, há quanto tempo saiu do seu país e como tem sido a vida desde então?
Na realidade, desde 2018 que vivo entre os dois países. Não foi uma decisão fácil. A vida na Europa pressupõe outros encargos financeiros, mas acredito ser uma opção importante para ampliar o meu mundo, granjear novas inspirações, partilhar o meu conhecimento e conquistar novos amantes de arte. Recordo que me foi sugerido por um colega lisboeta que deveria procurar um trabalho alternativo, porque viver exclusivamente da arte, em plena capital, seria muito difícil. No entanto, resisti e lutei, e hoje em dia tenho o privilégio de expor as minhas obras, tanto em Angola e Portugal, como noutras cidades europeias, seja em galerias e museus, como em residências artísticas, feiras e bienais de arte contemporânea. Algo que tem contribuído para o meu sucesso é o facto de trabalhar com pessoas que acreditam na minha obra, incluindo as galerias que me acompanham e representam.
«Apesar de todas as adversidades, sinto-me abençoado por ser artista»
O universo que transponho para as minhas obras resulta tanto do meu imaginário como do mundo que me rodeia. Tenho como que uma memória fotográfica. Retenho imagens e vozes que povoam o meu quotidiano e, assim, a minha inspiração provém de uma caminhada por entre pessoa sou florestas, mas também de notícias ou de livros que folheio. O mundo, com os seus odores, sabores e sentires, é, e será sempre, uma fonte inesgotável de inspiração para mim.
O que pretende transmitir com as suas obras?
Na minha obra, abordo várias temáticas socio culturais. No entanto, independentemente da temática, procuro, na maioria das vezes, encarar cada obra como uma oportunidade de dar esperança e energia positiva a quem interage com o meu trabalho.
De Angola para Portugal, há quanto tempo saiu do seu país e como tem sido a vida desde então?
Na realidade, desde 2018 que vivo entre os dois países. Não foi uma decisão fácil. A vida na Europa pressupõe outros encargos financeiros, mas acredito ser uma opção importante para ampliar o meu mundo, granjear novas inspirações, partilhar o meu conhecimento e conquistar novos amantes de arte. Recordo que me foi sugerido por um colega lisboeta que deveria procurar um trabalho alternativo, porque viver exclusivamente da arte, em plena capital, seria muito difícil. No entanto, resisti e lutei, e hoje em dia tenho o privilégio de expor as minhas obras, tanto em Angola e Portugal, como noutras cidades europeias, seja em galerias e museus, como em residências artísticas, feiras e bienais de arte contemporânea. Algo que tem contribuído para o meu sucesso é o facto de trabalhar com pessoas que acreditam na minha obra, incluindo as galerias que me acompanham e representam.
«Apesar de todas as adversidades, sinto-me abençoado por ser artista»
Levou Os Protagonistas à Galeria de Exposições Temporárias do Pavilhão de Angolana Expo 2020 Dubai. É um orgulho e uma responsabilidade?
Sem dúvida, ter a possibilidade de ser um dos artistas a representar o meu país na Expo Dubai 2022 é um privilégio, especialmente por ter a oportunidade de dar visibilidade à realidade dura de muitos jovens em Angola. A série de obras que apresento pela primeira vez nos Emirados Árabes Unidos aborda a vida de vários bairros. Cito dois aonde vivi: o Bairro Neves Bendinha ou Bairro Popular, em Luanda, e o Chibodo ou Bairro 4 de Abril, em Cabinda. São bairros onde algumas pessoas vivem em condições duras e onde há poucas oportunidades, mas onde, apesar disso, há muitos jovens que resistem à criminalidade, aceitando trabalhos informais que possam garantir a sua sobrevivência: lavar carros, transportar mercadorias, vender frutas na rua, etc. Tudo em prol da sua sobrevivência e da sustentabilidade das suas famílias. Para mim, estes jovens são uma inspiração, uma força da natureza. Um dia, gostaria de ter a possibilidade de apresentar esta série de pinturas noutros países e contextos, de partilhar essa visão de como uma realidade amarga se pode tornar numa enorme fonte de inspiração e numa lição sobre a vontade de perseverar e viver.
O Cristiano é um artista muito bem cotado internacionalmente em diversas e prestigiadas casas e galerias de arte. Sendo ainda tão novo, como olha para o seu percurso e o que espera ainda poder vir a alcançar enquanto profissional?
Ainda sou um jovem artista e tenho um longo caminho a percorrer. Mas o lugar que alcancei foi com enorme perseverança, dedicação, coragem, sacrifício e muito trabalho. Acredito que a minha positividade, aliada à disciplina, contribui para manter um certo equilíbrio na minha vida criativa e pessoal. Sinto que a arte contribui para um certo equilíbrio na minha alma. Apesar de todas as adversidades, sinto-me abençoado por ser artista. A arte corre-me nas veias. Por outro lado, também devo muito do meu sucesso às galerias que me representam, pois tiveram a coragem de apostar em mim e na minha obra, de a encaminhar e apresentar em lugares de prestígio e de respeito, fazendo com que a massa crítica reconheça um artista africano como um artista global. Contudo, neste meu caminho, aprendi igualmente a respeitar a criatividade dos outros. Quando me deparo com uma obra de outrem, não só a aprecio, como tenho, de igual modo, a capacidade de compreender os possíveis sacrifícios e o trabalho árduo necessário para que aquela obra possa estar naquele museu ou galeria. Assim, aproveito esta oportunidade para agradecer a todos os que confiam e contribuem para a visibilidade da minha obra, da visão que ela compreende, e para a minha realização criativa. Persisto no sonho de que um dia a minha obra possa ser colecionada e exibida em grandes museus, seja em Portugal, seja em Angola, seja no resto do mundo.
Sem dúvida, ter a possibilidade de ser um dos artistas a representar o meu país na Expo Dubai 2022 é um privilégio, especialmente por ter a oportunidade de dar visibilidade à realidade dura de muitos jovens em Angola. A série de obras que apresento pela primeira vez nos Emirados Árabes Unidos aborda a vida de vários bairros. Cito dois aonde vivi: o Bairro Neves Bendinha ou Bairro Popular, em Luanda, e o Chibodo ou Bairro 4 de Abril, em Cabinda. São bairros onde algumas pessoas vivem em condições duras e onde há poucas oportunidades, mas onde, apesar disso, há muitos jovens que resistem à criminalidade, aceitando trabalhos informais que possam garantir a sua sobrevivência: lavar carros, transportar mercadorias, vender frutas na rua, etc. Tudo em prol da sua sobrevivência e da sustentabilidade das suas famílias. Para mim, estes jovens são uma inspiração, uma força da natureza. Um dia, gostaria de ter a possibilidade de apresentar esta série de pinturas noutros países e contextos, de partilhar essa visão de como uma realidade amarga se pode tornar numa enorme fonte de inspiração e numa lição sobre a vontade de perseverar e viver.
O Cristiano é um artista muito bem cotado internacionalmente em diversas e prestigiadas casas e galerias de arte. Sendo ainda tão novo, como olha para o seu percurso e o que espera ainda poder vir a alcançar enquanto profissional?
Ainda sou um jovem artista e tenho um longo caminho a percorrer. Mas o lugar que alcancei foi com enorme perseverança, dedicação, coragem, sacrifício e muito trabalho. Acredito que a minha positividade, aliada à disciplina, contribui para manter um certo equilíbrio na minha vida criativa e pessoal. Sinto que a arte contribui para um certo equilíbrio na minha alma. Apesar de todas as adversidades, sinto-me abençoado por ser artista. A arte corre-me nas veias. Por outro lado, também devo muito do meu sucesso às galerias que me representam, pois tiveram a coragem de apostar em mim e na minha obra, de a encaminhar e apresentar em lugares de prestígio e de respeito, fazendo com que a massa crítica reconheça um artista africano como um artista global. Contudo, neste meu caminho, aprendi igualmente a respeitar a criatividade dos outros. Quando me deparo com uma obra de outrem, não só a aprecio, como tenho, de igual modo, a capacidade de compreender os possíveis sacrifícios e o trabalho árduo necessário para que aquela obra possa estar naquele museu ou galeria. Assim, aproveito esta oportunidade para agradecer a todos os que confiam e contribuem para a visibilidade da minha obra, da visão que ela compreende, e para a minha realização criativa. Persisto no sonho de que um dia a minha obra possa ser colecionada e exibida em grandes museus, seja em Portugal, seja em Angola, seja no resto do mundo.