Ainda era uma menina, mas Filipa Fleming já sentia a curiosidade de gente grande quando espreitava para dentro das casas para ver o que lá havia. Há sinais que nos são dados desce cedo e a designer de interiores nunca os ignorou. Entre tecidos, composições e texturas, cresceu e formou-se com a certeza de que tinha nascido para tornar os espaços mais confortáveis. Natural do Porto, mora em Lisboa, mas já viveu por duas vezes fora de Portugal. Hoje, o seu nome é já uma marca de respeito no mercado. Um sucesso que se deve a muitos fatores, um deles é saber construir uma equipa, porque, como diz, «sozinhos não vamos a lado nenhum».
Como e quando desperta para o Design de Interiores?
Desde criança que tenho um fascínio por casas e lembro-me, em pequena, de espreitar para dentro delas com muita curiosidade. E sempre que ia a casa de alguém tinha de ver todas as divisões, em especial as cozinhas e casas-de-banho… Deve ser daqui que vem a minha preocupação em dar o máximo de conforto a estes espaços. Além disso, a minha mãe teve uma loja de mobiliário e decoração e eu ficava encantada cada vez que lá ia. Adorava os tecidos e ficava ali a fazer composições, a conjugar cores e texturas. Portanto, quando chegou a altura de me decidir por um curso, não tive qualquer dificuldade na escolha. Fui para Design de Interiores, até porque a arquitetura, que comporta uma escala maior, na altura não me despertava tanto interesse… Hoje já penso de outra maneira.
Quais são as suas inspirações? Têm variado ao longo dos anos, ou há sempre uma base que se mantém intacta?
Na verdade, para mim tudo é inspiração. É por defeito e por feitio. Sou muito observadora e pensativa, estou sempre a pensar em alguma coisa. Por vezes, entro num espaço para relaxar e aproveitar o momento e não sou capaz de o fazer, porque estou sempre a observar tudo, a ver os pormenores, a anotar ideias… Mas, se tiver de fazer referência a uma fonte de inspiração, diria que são as viagens. Sempre foram e continuarão a ser inspiradoras para o meu trabalho, quer vá em lazer ou por motivos profissionais. Gosto de ver e conhecer coisas novas, estar a par do que se faz e do que acontece no domínio da arte e do design… Adoro visitar exposições, feiras e outros eventos que sejam enriquecedores e me façam crescer enquanto pessoa e profissional.
«Gostamos de criar diferenciação, deixar um cunho pessoal em cada projeto»
É natural do Porto, mas a dada altura rumou a Lisboa. O que motivou essa mudança?
A vida profissional do meu marido estava concentrada em Lisboa e, com a família a crescer (temos três filhos), não fazia sentido vivermos longe. Adoro o Porto e continuamos a ir lá sempre que podemos, até porque grande parte da minha família permanece lá, mas também gosto imenso de Lisboa e sinto-me muito feliz nesta cidade que escolhemos para viver.
Pode falar-nos também do que a levou a querer fazer o último ano do curso em Milão e, mais tarde, a viver quatro anos no Brasil?
Estudar em Milão, capital mundial da moda e do design, foi sempre um sonho. A universidade era excelente, os professores uma referência, por isso, quando surgiu a oportunidade, não hesitei um segundo! Foi uma experiência incrível e muito enriquecedora.
A ida para o Brasil, em São Paulo, esteve, relacionada com o trabalho do meu marido. No início não foi fácil, pois tive de deixar para trás alguns projetos em que estava a trabalhar, mas ainda assim consegui continuar muitos à distância. O Brasil acabou por ser outra excelente surpresa, porque aproveitei para fazer uma especialização na área de eventos e criei uma empresa nesse ramo, que conciliava a confeção de bolos e arranjos florais. Foi um projeto que adorei, que me deixa muitas saudades e, portanto, posso dizer que foi uma experiência maravilhosa. Além disso, foi igualmente enriquecedor a nível de design de interiores. As casas lá são fantásticas, e a forma como os brasileiros vivem o espaço exterior é verdadeiramente inspiradora e teve uma influência enorme no meu trabalho e no meu primeiro grande projeto quando regressámos: a minha casa e de família, em Lisboa.
Depois de regressar decidiu fazer um rebranding. Porquê?
Quando regressámos do Brasil, Portugal estava numa fase de crescimento e, de certa forma, eu queria "recuperar o tempo perdido”. A imagem da minha marca estava desatualizada e fazia todo o sentido renová-la para a tornar mais moderna e atual. Aproveitei para fazer um rebranding completo e, além da identidade visual, mudei também o nome, capitalizando o meu próprio nome para criar uma nova marca: Filipa Fleming – Interior Design. Creio que desta forma conseguimos transmitir melhor o nosso conceito, a abrangência de serviços e de setores em que trabalhamos, pois, apesar de continuarmos focados nos interiores de casas, estamos também vocacionados para escritórios, lojas e hotéis.
Tem no curriculum muitos projetos de grande impacto que a devem orgulhar. Consegue enumerar os que para si foram mais desafiantes e porquê?
Todos os projetos são desafiantes e orgulho-me de todos. Cada projeto é um desafio diferente e cada um é personalizado para uma pessoa, uma família ou uma empresa. Há uns anos realizei um que adorei, quer pela novidade, quer pela sua especificidade. Fiz a decoração de um moinho convertido numa casa, um espaço muito pequeno, em que tudo teve de ser pensado ao milímetro (literalmente) para otimizar e aproveitar ao máximo todo o espaço. Recentemente, fiz a renovação e ampliação de um escritório em que já havia trabalhado anteriormente. Este tipo de projetos é sempre muito desafiante, pois, além de estarmos a criar um espaço identitário para uma empresa, temos de o fazer com as equipas a trabalharem no local e, na altura que elas saem, temos de concluir o trabalho no mínimo tempo possível. Exige muita logística e organização, mas é muito compensador.
Além da decoração de interiores, é também conhecida pela criação de peças próprias...
Sim, numa altura em que as casas parecem todas iguais, gostamos de criar diferenciação, de deixar um cunho pessoal em cada projeto que desenvolvemos. É um enorme privilégio criar peças especiais feitas à medida de cada espaço e para cada cliente e que sejam adaptadas a uma determinada função e a um determinado ambiente. Cada projeto é único e cada cliente tem o seu estilo, o seu gosto e a sua personalidade e, como tal, faz todo o sentido criar peças exclusivas.
Costumam questioná-la sobre o seu sobrenome? Tanto quanto se sabe, nada tem que ver com o Ian Fleming, criador do James Bond...
Com o Ian Fleming, pouco! Creio que a generalidade das pessoas conhece muito melhor a personagem do que o seu criador. Mas lembro-me de me perguntarem, quando era mais nova, se tinha algum tipo de parentesco com Alexander Fleming (que descobriu a penicilina). Além disso, nas aulas de ciências tinha de explicar aos meus colegas porque é que a professora dizia «Filipa, és tu que vais ler em voz alta, já que és prima dele!».
Qual o segredo para que, na área do Design de Interiores, alguém consiga construir uma carreira tão sólida quanto a que a Filipa edificou?
Como em qualquer outra área de atividade, creio que o segredo é muito trabalho, empenho, pesquisa e, sobretudo, uma excelente equipa. Muitas vezes, as pessoas não têm noção do trabalho ‘invisível’ que está por detrás de uma obra. A quantidade de pessoas envolvidas é enorme, e conseguir conciliar tudo é o maior desafio, mas é também o mais interessante. E isso só se consegue com muito bons parceiros, sozinhos não vamos a lado nenhum.
Como e quando desperta para o Design de Interiores?
Desde criança que tenho um fascínio por casas e lembro-me, em pequena, de espreitar para dentro delas com muita curiosidade. E sempre que ia a casa de alguém tinha de ver todas as divisões, em especial as cozinhas e casas-de-banho… Deve ser daqui que vem a minha preocupação em dar o máximo de conforto a estes espaços. Além disso, a minha mãe teve uma loja de mobiliário e decoração e eu ficava encantada cada vez que lá ia. Adorava os tecidos e ficava ali a fazer composições, a conjugar cores e texturas. Portanto, quando chegou a altura de me decidir por um curso, não tive qualquer dificuldade na escolha. Fui para Design de Interiores, até porque a arquitetura, que comporta uma escala maior, na altura não me despertava tanto interesse… Hoje já penso de outra maneira.
Quais são as suas inspirações? Têm variado ao longo dos anos, ou há sempre uma base que se mantém intacta?
Na verdade, para mim tudo é inspiração. É por defeito e por feitio. Sou muito observadora e pensativa, estou sempre a pensar em alguma coisa. Por vezes, entro num espaço para relaxar e aproveitar o momento e não sou capaz de o fazer, porque estou sempre a observar tudo, a ver os pormenores, a anotar ideias… Mas, se tiver de fazer referência a uma fonte de inspiração, diria que são as viagens. Sempre foram e continuarão a ser inspiradoras para o meu trabalho, quer vá em lazer ou por motivos profissionais. Gosto de ver e conhecer coisas novas, estar a par do que se faz e do que acontece no domínio da arte e do design… Adoro visitar exposições, feiras e outros eventos que sejam enriquecedores e me façam crescer enquanto pessoa e profissional.
«Gostamos de criar diferenciação, deixar um cunho pessoal em cada projeto»
É natural do Porto, mas a dada altura rumou a Lisboa. O que motivou essa mudança?
A vida profissional do meu marido estava concentrada em Lisboa e, com a família a crescer (temos três filhos), não fazia sentido vivermos longe. Adoro o Porto e continuamos a ir lá sempre que podemos, até porque grande parte da minha família permanece lá, mas também gosto imenso de Lisboa e sinto-me muito feliz nesta cidade que escolhemos para viver.
Pode falar-nos também do que a levou a querer fazer o último ano do curso em Milão e, mais tarde, a viver quatro anos no Brasil?
Estudar em Milão, capital mundial da moda e do design, foi sempre um sonho. A universidade era excelente, os professores uma referência, por isso, quando surgiu a oportunidade, não hesitei um segundo! Foi uma experiência incrível e muito enriquecedora.
A ida para o Brasil, em São Paulo, esteve, relacionada com o trabalho do meu marido. No início não foi fácil, pois tive de deixar para trás alguns projetos em que estava a trabalhar, mas ainda assim consegui continuar muitos à distância. O Brasil acabou por ser outra excelente surpresa, porque aproveitei para fazer uma especialização na área de eventos e criei uma empresa nesse ramo, que conciliava a confeção de bolos e arranjos florais. Foi um projeto que adorei, que me deixa muitas saudades e, portanto, posso dizer que foi uma experiência maravilhosa. Além disso, foi igualmente enriquecedor a nível de design de interiores. As casas lá são fantásticas, e a forma como os brasileiros vivem o espaço exterior é verdadeiramente inspiradora e teve uma influência enorme no meu trabalho e no meu primeiro grande projeto quando regressámos: a minha casa e de família, em Lisboa.
Depois de regressar decidiu fazer um rebranding. Porquê?
Quando regressámos do Brasil, Portugal estava numa fase de crescimento e, de certa forma, eu queria "recuperar o tempo perdido”. A imagem da minha marca estava desatualizada e fazia todo o sentido renová-la para a tornar mais moderna e atual. Aproveitei para fazer um rebranding completo e, além da identidade visual, mudei também o nome, capitalizando o meu próprio nome para criar uma nova marca: Filipa Fleming – Interior Design. Creio que desta forma conseguimos transmitir melhor o nosso conceito, a abrangência de serviços e de setores em que trabalhamos, pois, apesar de continuarmos focados nos interiores de casas, estamos também vocacionados para escritórios, lojas e hotéis.
Tem no curriculum muitos projetos de grande impacto que a devem orgulhar. Consegue enumerar os que para si foram mais desafiantes e porquê?
Todos os projetos são desafiantes e orgulho-me de todos. Cada projeto é um desafio diferente e cada um é personalizado para uma pessoa, uma família ou uma empresa. Há uns anos realizei um que adorei, quer pela novidade, quer pela sua especificidade. Fiz a decoração de um moinho convertido numa casa, um espaço muito pequeno, em que tudo teve de ser pensado ao milímetro (literalmente) para otimizar e aproveitar ao máximo todo o espaço. Recentemente, fiz a renovação e ampliação de um escritório em que já havia trabalhado anteriormente. Este tipo de projetos é sempre muito desafiante, pois, além de estarmos a criar um espaço identitário para uma empresa, temos de o fazer com as equipas a trabalharem no local e, na altura que elas saem, temos de concluir o trabalho no mínimo tempo possível. Exige muita logística e organização, mas é muito compensador.
Além da decoração de interiores, é também conhecida pela criação de peças próprias...
Sim, numa altura em que as casas parecem todas iguais, gostamos de criar diferenciação, de deixar um cunho pessoal em cada projeto que desenvolvemos. É um enorme privilégio criar peças especiais feitas à medida de cada espaço e para cada cliente e que sejam adaptadas a uma determinada função e a um determinado ambiente. Cada projeto é único e cada cliente tem o seu estilo, o seu gosto e a sua personalidade e, como tal, faz todo o sentido criar peças exclusivas.
Costumam questioná-la sobre o seu sobrenome? Tanto quanto se sabe, nada tem que ver com o Ian Fleming, criador do James Bond...
Com o Ian Fleming, pouco! Creio que a generalidade das pessoas conhece muito melhor a personagem do que o seu criador. Mas lembro-me de me perguntarem, quando era mais nova, se tinha algum tipo de parentesco com Alexander Fleming (que descobriu a penicilina). Além disso, nas aulas de ciências tinha de explicar aos meus colegas porque é que a professora dizia «Filipa, és tu que vais ler em voz alta, já que és prima dele!».
Qual o segredo para que, na área do Design de Interiores, alguém consiga construir uma carreira tão sólida quanto a que a Filipa edificou?
Como em qualquer outra área de atividade, creio que o segredo é muito trabalho, empenho, pesquisa e, sobretudo, uma excelente equipa. Muitas vezes, as pessoas não têm noção do trabalho ‘invisível’ que está por detrás de uma obra. A quantidade de pessoas envolvidas é enorme, e conseguir conciliar tudo é o maior desafio, mas é também o mais interessante. E isso só se consegue com muito bons parceiros, sozinhos não vamos a lado nenhum.